Em agosto deste ano, em São José do Rio Preto-SP, um menino de 8 anos foi repreendido pela diretora de sua escola por ouvir heavy metal. Ele foi encaminhado à diretoria por estar batucando na carteira, fingindo que tocava bateria. Ao contar à diretora que seu sonho era tocar guitarra com o Iron Maiden, ela o desincentivou severamente, mostrando a ele imagens de capas dos discos da banda que, segundo ela, eram imagens associados ao demônio, satanismo e à morte. Segundo o menino, a diretora ainda disse que os roqueiros sacrificam animais, cortam cabeças e fazem pacto com o demônio. A diretora se defende, afirmando que quis despertar uma reflexão no menino. Segundo ela, este é seu trabalho, já que as imagens não têm mensagem positiva.
Não vou nem entrar no mérito da questão da generalização que se faz do rock, em que acreditam que é tudo a mesma coisa, sendo isso evidente até na forma como o chamam. Os desavisados jogam no mesmo “caldeirão” coisas extremamente diferentes: Rolling Stones, Iron Maiden, Dimmu Borgir, Guns n’ Roses, Limp Bizkit, Red Hot Chili Peppers, etc. Para eles, é tudo a mesma coisa. É tudo “rock”. Mas o rock se desmembra em diversos estilos, e cada uma das bandas citadas acima pertence a um diferente. Uma de suas subdivisões, inclusive, é o metal que, por sua vez, também se destrinche em vários estilos, como heavy metal, heavy metal melódico, power metal, thrash metal, black metal, white metal, etc. Existe até o termo “metal barroco”, que se refere ao estilo interpretado por Yngwie Malmsteen. Mesmo assim, o metal, de forma geral, é sempre chamado de “heavy metal” pela grande mídia. Isto já é pelo menos um avanço, pois há não muito tempo ela o denominava ainda mais pobremente de “rock pauleira”.
O que quero dizer com tudo isso (e olha que eu disse que não iria entrar no mérito dessa questão) é que existem, sim, bandas que fazem apologia ao satanismo e afins, mas isso é uma vertente bem específica do metal (black e até death metal). Cada estilo tem suas particularidades, mas, via de regra, as letras das músicas falam sobre sociedade, subversão, histórias de civilizações, temas políticos, contos, mitos, relações amorosas (sim, metaleiro fala de amor). O próprio Iron Maiden, em torno do qual se criou a polêmica na escola, é um exemplo de banda cujas letras remetem, principalmente, a histórias e mitos. O oculto é, de fato, muito explorado por eles, mas de forma alguma se faz apologia ao satanismo ou algo do tipo.
Também não vou entrar no mérito da questão sobre a atitude da diretora de questionar as escolhas do menino. Na verdade, a ênfase que a mídia deu ao caso foi em relação à reprovável atitude autoritária da diretora, ferindo o livre arbítrio do aluno, julgando o que ele deveria ou não ouvir. Para mim, não foi esse o problema. Em tempos de visível perda de autoridade dos pais perante os filhos e da total desorientação destes em diversos assuntos, não me incomoda ver alguém tentar direcionar as opiniões e valores de um jovem; pelo contrário.
O que me incomoda é o fato da diretora ter feito isso em relação aos pré-conceitos que tem em relação ao rock. É impossível não perceber que o funk, axé e até alguma coisa do pagode, estilos musicais descaradamente apadrinhados pela grande mídia, exercem influência muito mais negativa sobre as pessoas, em especial as crianças. E é bem sabido que as escolas, sejam elas de qualquer nível sócio-econômico, incitam as atividades de dança desses estilos, aceitando inclusive as mais grotescas.
A questão é: por que questionar as atividades supostamente anticristãs de um aluno, e não fazer o mesmo ao ver meninas de 8 anos dançando na boquinha da garrafa? Como é possível acatar meninas que ainda levam lancheira da Moranguinho, mas ao mesmo tempo vão para a escola com calças apertadíssimas especialmente ajustadas para delinear seus corpinhos de manequim tamanho 16? Como se pode aceitar meninas que ainda nem menstruaram dançando funk e venerando mulheres-frutas? Como aceitar que meninas do jardim de infância deixem de brincar por causa do sapato de salto que usam? Como encarar com normalidade o fato de meninas de menos de 10 anos serem o público-alvo cada vez mais crescente de distúrbios alimentares e/ou já pensarem nas cirurgias estéticas que “precisam” fazer para se adequar ao padrão de mulher-objeto que elas recebem da mídia e das músicas grotescas que ouvem? Tudo isso é fortemente reforçado pelo brega-popularesco que é veiculado e reforçado pela grande mídia. E é muito assustador que pensem que seja o rock (mesmo o metal) o vilão.
A sexualização precoce é gritante e, embora os pais sejam os responsáveis pela educação de seus filhos, a escola tem o poder – e o dever – de intervir nessas questões. Por isso o que me chateia – e me preocupa- não é o fato de a diretora questionar as escolhas de um aluno, mas quais escolhas ela questiona e quais deixa de questionar.
Isso ...
È Bem Diferente Disso ...
Fonte Desta Matéria : http://www.ironmaidenbrasil.com.br
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